Públicos há muitos: como se adaptar a diferentes auditórios
Uma das mais importantes características de um bom orador é a sua capacidade de se adequar àquilo que as pessoas esperam dele. A maior ou menor facilidade em adaptar-se ao auditório irá determinar quão bem a sua mensagem será recebida.
Seja um auditório composto por executivos, por munícipes ou por crianças de uma escola primária, o orador deve criar e apresentar especificamente o seu discurso de forma personalizada.
Algumas pessoas creem que os discursos são como as luvas. As luvas vêem geralmente num tamanho único que se adapta a todos os tipos de mão. Contudo, a Retórica não se baseia em técnicas padronizadas ou fórmulas universais. O que os grandes oradores sabem é que cada auditório possui as suas singularidades e expectativas. Por isso, eles preocupam-se em desenhar um discurso e uma comunicação perfeitamente adaptadas a esse auditório.
Atributos do Auditório a contemplar:
Expectativas acerca da comunicação- O que esperam de si, enquanto orador?
Conhecimento do assunto em questão- Dominam aprofundadamente o tópico que lhes apresenta?
Atitude - Existe a tendência prévia de apoiar ou resistir ao seu tópico? Repare que é muito diferente vender um hambúrguer a quem está com fome do que a quem acabou de tomar a sua refeição.
Tamanho do Auditório - Discursar perante 10 pessoas beneficia de uma estilo conversacional que se torna mais difícil de pôr em prática perante um auditório de 10.000 pessoas!
Características Socio-Económicas - Qual a idade, género, estilo de vida, educação ou profissão de quem escuta o seu discurso?
Contexto - Trata-se de uma comemoração oficial, um trabalho no escritório ou um discurso inserido num colóquio? Em cada caso, a tipologia discursiva será diferente, assim como o tempo disponível para o realizar.
Como Preparar o Discurso à medida
Auditórios favoráveis (ex: comícios políticos, assembleias associativas, grupos de fãs, etc)
- Enfâse nos aspectos emocionais que ligam orador e auditório (Pathos) lembrando a história, desafios e triunfos.
- Apelos emocionais a valores comuns.
- Apelo à acção (tal como Demóstenes no Terceiro Discurso Contra Filipe).
- Referências a experiências colectivas partilhadas
- Interpelação do Auditório criando oportunidades para ele intervir
Auditórios desfavoráveis (ex: vendas comerciais)
- Uso da credibilidade do orador (Ethos) procurando constituir-se como uma autoridade no assunto. Frequentemente recorrendo a testemunhas, peritos ou especialistas.
- Argumentação exaustiva apresentando provas, factos e evidências diversas que apoiem a tese defendida.
- Raciocínios de ordem mais Racional (Logos).
- O importante não é fazer o auditório mudar de opinião imediatamente mas construir uma influência duradoura que possa fazê-lo considerar a proposta do orador.
O importante a reter é que cada auditório é um auditório e que poderá reagir de forma completamente inesperada. Estas são algumas sugestões que podem orientar o comportamento do orador, tanto ao nível da redacção do seu discurso, como da postura adoptar ao longo da sua exposição argumentativa.
Retoricamente, bons discursos!