Grandes Discursos: We Shall Fight on the Beaches de Winston Churchill


A 4 de Junho de 1940, Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido, proferiu, perante a Câmara dos Comuns, do Parlamento do Reino Unido, o famoso discurso "We Shall Fight on the Beaches" traduzido, em português, como "Lutaremos nas Praias".

Este foi um dos três grandes discursos de Churchill durante a invasão de França e dos Países Baixos pela Alemanha Nazi durante a II Guerra Mundial: We Shall Fight on the Beaches" foi precedido de um outro discurso famoso, Blood, toil, tears, and sweat (13 de Maio de 1940) e antecedeu This was their finest hour (18 de Junho de 1940).

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We Shall Fight on the Beaches surgiu num período imediatamente seguinte à evacuação das tropas britânicas de Dunkirk e antes da derrota final e rendição que aconteceria mais tarde nesse mês.No contexto da recente invasão da Alemanha, Churchill elogia a nação exortando à defesa - até à morte - do Reino Unido. Assume uma determinação ímpar nessa tarefa com vista à libertação do jugo Nazi.

O discurso causou um enorme alvoroço por entre os deputados pela elevada capacidade retórica demonstrada. É um dos mais citados discursos que se destaca pelo intenso tom emocional do apelo patriótico, transmitida por vívidas descrições e um vocabulário cuidado.


Um dos aspectos mais marcantes do discurso é que Churchill não cede a um instinto popular de tentar ganhar o apoio da multidão através de falsas esperanças. Churchill apresenta uma reflexão factual e sensata da realidade dando ao público novas informações que providenciam o contexto necessário para compreender a situação sensível que o país atravessava. 
Mesmo arriscando deprimir os seus cidadãos, ele prefere apostar na sua credibilidade enquanto orador, e enquanto líder do Reino Unido. É o seu Ethos  - autoridade, respeito, credibilidade - que, na verdade, sustenta o lado emocional (ligado ao Pathos) do seu discurso.

Esta é uma lição que todos os oradores devem retirar.

Factos Curiosos:
  • Winston Churchill lutava contra a gaguez: isso é particularmente evidente quando pronunciava a letra "s". No entanto isso não o impediu de escrever discursos fortes e de ser um dos mais respeitados orados do séc. XX.
  • O discurso demorou cerca de 35 minutos (das 15h40 às 16h14).
  • Vieram lágrimas aos olhos de alguns membros da Câmara dos Comuns.
  • Contudo, a primeira reacção da Opinião Pública não foi entusiástica nem empolgou os cidadãos. 





Porque é um Grande Discurso:

  • Comunicação de união, patriotismo e, sobretudo, de superação das adversidades que teve um enorme impacto na mobilização das tropas e na organização da resistência.
  • Ethos e Pathos coordenados e cuidadosamente complementados.
  • Frases longas acumulam tensão e conduzem ao desfecho (clímax) do discurso - o apelo às armas e à não rendição na defesa da liberdade.
  • O uso da Anáfora (Lutaremos em França; Lutaremos nos mares; Lutaremos com confiança)  confere ritmo mas também intensidade às ideias.
  • A obstinação do orador é concretizada em imagens mentais sugestivas e com que qualquer pessoa se pode identificar (os mares, os campos, as praias, as nossas ruas...).
  • A anáfora desenvolve-se e culmina na ideia central do discurso: "nunca nos renderemos". Tratando-se do epílogo do discurso, este aspecto é ainda mais importante porque recorda, de forma imediata e concreta, a ideia central que o auditório deve levar deste discurso.
  • O uso de verbos contribui para o apelo à acção do auditório ("defendemos", "lutaremos") alcançando uma dimensão motivacional e inspiracional do discurso que levantou o ânimo dos Franceses e dos Aliados.

Excerto de "We Shall Fight on the Beaches":

(Usamos a tradução divulgada pela Wikipedia em:https://pt.wikipedia.org/wiki/We_Shall_Fight_on_the_Beaches. Esta não é certamente a melhor tradução mas permite-nos utilizá-la sem ferir os direitos de autor. O português é sul-americano)


"Voltando novamente, e desta vez mais geralmente, à questão da invasão, eu observaria que nunca houve um período em todos estes longos séculos dos quais nos vangloriamos em que uma garantia absoluta contra a invasão, ainda menos contra ataques sérios, pôde ser dada ao nosso povo. Nos dias de Napoleão, dos quais eu estava  agora mesmo, o mesmo vento que teria carregado seus transportes através do Canal poderia ter afastado a frota bloqueante. Sempre houve a chance, e é esta chance que excitou e enganou as imaginações de muitos tiranos continentais. Muitos são os contos que são contados. Nós estamos seguros de que novos métodos serão adotados, e quando nós virmos a originalidade da malícia, a ingenuidade da agressão, que nosso inimigo demonstra, nós podemos certamente nos preparar para cada tipo de novo estratagema e cada tipo de manobra brutal e traiçoeira. Eu acho que nenhuma ideia é tão estranha que não deva ser considerada e vista como uma busca, mas ao mesmo tempo, eu tenho esperança, com um olho firme. Nós nunca devemos esquecer as certezas sólidas do poder marítimo e aquelas que pertencem ao poder aéreo se ele puder ser exercido localmente.
Eu próprio tenho plena confiança que se todos cumprirem seus deveres, se nada for negligenciado, e se as melhores providências forem tomadas, como está sendo feito, deveremos nos provar capazes mais uma vez de defender a nossa ilha natal, de superar a tempestade da guerra, e de sobreviver à ameaça de tirania, se necessário por anos, se necessário sozinhos. De qualquer maneira, isso é o que tentaremos fazer. Esta é a determinação do Governo de Sua Majestade - de cada homem dele. Esta é a vontade do Parlamento e da nação. O Império Britânico e a República Francesa, unidos em sua causa e em sua necessidade, defenderá até à morte seu solo nativo, auxiliando um ao outro como bons camaradas até o máximo de sua força.

Muito embora grandes extensões da Europa e antigos e famosos Estados tenham caído ou possam cair nos punhos da Gestapo e de todo o odioso aparato do domínio nazista, nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim. Lutaremos em França. Lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar, defenderemos nossa ilha, qualquer que seja o custo. Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca nos renderemos, e se, o que eu não acredito nem por um momento, esta ilha, ou uma grande porção dela fosse subjugada e passasse fome, então nosso Império de além-mar, armado e guardado pela Frota Britânica, prosseguiria com a luta, até que, na boa hora de Deus, o Novo Mundo, com toda a sua força e poder, daria um passo em frente para o resgate e libertação do Velho".

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A Gravação Audio do Discurso foi disponibilizada pelo The Guardian, aqui.
O texto integral em Inglês pode ser consultado aqui
Para uma análise académica deste discurso (artigo científico) ir aqui


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