Discursar como Obama
Um dos mais celebrados oradores contemporâneos é o ex-Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama. A sua sensibilidade combinada com firme determinação, aliada a um voz grave serena fazem dele um dos mais reputados e desejados oradores.
Recentemente, o seu assessor de comunicação encarregue de escrever os seus discursos, Jon Favreau, deu uma entrevista à GQ do Reino Unido onde desvenda alguns aspectos que tornam Obama um comunicador único.
Enumeramos aqui algumas das características das alocuções com que a oratória de Barack Obama nos conquistou.
Registo Conversacional
Os discursos são actos de comunicação que devem parecer espontâneos e pouco artificiosos. Por vezes, a formalidade é uma exigência mas o seu excesso torna a oratória algo ostentatória e pouco natural. Um discurso deve começar tal como uma boa conversa: a propósito de algum tópico e interpelando alguém acerca desse tópico.
As melhores aberturas são aqueles em que ninguém dá por isso. E nisso Obama é um mestre retórico.
Exemplo: "Sabem, disseram que este dia nunca chegaria".
A primeira frase do discurso de vitória no Iowa, em 2008.
Humor Refinado
A política possui, frequentemente, um ambiente bafiento e árido onde os ataques são violentos e acérrimos. A inclusão de humor, quando cirurgicamente colocado no discurso, pode ajudar a equilibrar toda a agressividade da política sem que isso signifique deixar de ser contundente.
Exemplo: "Ainda no outro dia, Matt Damon - adoro o Matt Damon, gosto dele - Matt Damon disse que ele estava desapontado com o meu desempenho. Bem Matt, acabei de ver o Adjustement Bureau (em português, os Agentes do Destino, 2011) por isso, amigo, devolto-te a crítica.
Jantar de Gala dos Correspondentes da Casa Branca, 2011
Personalizar
As histórias pessoais são sempre momentos de conexão entre o auditório e o orador. Na Presidência Norte-Americana, elas remontam aos discursos de Reagan ou Clinton, por exemplo. O que funciona tão bem nestas histórias de vida é que o orador mostra os motivos que o fazem fazer aquilo que faz. As histórias são momentos de autenticidade nos quais as pessoas se podem identificar. Obama reconhecia o poder dessas histórias e utilizava-as não raramente.
Exemplo: "Ser um adolescente não é fácil. É uma altura em que nos debatemos com uma data de coisas. Quando eu estava na adolescência, que debatia-me com todo o tipo de questões acerca de quem eu era. Tinha uma mãe branca e um pai negro, e não estava com o meu pai; ele deixou-nos quando eu tinha dois anos"
Discurso "Back to School", 2010
Dramático Q.B.
Todos os discursos têm momentos de baixa intensidade e momentos de alta intensidade. A estes nós chamamos de momentos dramáticos. Todos os grandes discursos possuem drama (em maior ou em menor quantidade). O drama apimenta as ideias mas também sublinha a sua importância crucial. Frequentemente é usado pelos políticos na fase final da alocução, pouco antes de "pedirem" as palmas e de deixarem o seu slogan.
Exemplo: "Já não sou apenas um candidato. Sou o Presidente. Sei o que é enviar jovens americanos para a guerra pois tive nos braços as mães e os pais daqueles que nunca regressaram".
Discurso na Convenção Nacional Democrata, 2012
Em síntese, Obama ensina-nos, na sua eloquência, a importância de acrescentar efeitos dramáticos ao mesmo tempo que, em determinadas circunstâncias, podemos aproveitar as nossas (genuínas) histórias de vida, e apresentar humor refinado. Tudo isto pode ser envolvido num registo conversacional, em que fazemos dos membros do auditório nossos interlocutores directos.
Retoricamente, boas apresentações!