Como Falar perante Crianças: 3 dicas

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Por vezes, encontramo-nos perante a ocasião de discursar perante um público infantil. 
Seja pela nossa profissão (Educadora de Infância, Polícia, Professor, Político, etc), seja pelas circunstâncias da nossa vida (apresentar uma actividade aos colegas do nosso filho, por exemplo), poderá surgir a necessidade ocasional de nos dirigirmos a este auditório muito específico.



Um auditório composto de crianças apresenta desafios singulares.
Eis alguns:

As crianças são sinceras. Se não gostam daquilo que escutam não se inibem de o expressar. Isto pode ser especialmente duro para um orador desprevenido.

Um longo e fastidioso discurso de 2 horas vai, com certeza, fazê-las aborrecer (e, no limite, adormecer). Isso acontece igualmente com adultos. Contudo, muitas vezes por cortesia e respeito do orador, os adultos permanecem estoicamente nos seus lugares.

O discurso mais eficiente para elas é aquele que introduz o tópico (de forma brincalhona ou dramática), o desenvolve (com histórias, experiências, etc) e o conclui (resumindo e ilustrando a nossa tese com um testemunho ou história de vida. 
As comunicações para crianças devem ser concisas e simples. Muito importante é envolvê-las no discurso e não esperar apenas que elas fiquem quitas e caladas a escutar.
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Reagem muito bem a narrativas que contenham elementos de diálogo entre personagens, surpresa ou mistério.

Gostam muito de visualizar aquilo que ouvem. Por isso, o uso de gestos, fotografias, desenhos e vídeos é recomendado. Assim, se o orador aludir a um passeio de barco no rio, irá  com certeza descrever com os braços o movimento dos remos, por exemplo.

A voz do orador deve ser especialmente bem projectada e evocativa. O seu tom de voz deve ajustar-se a cada momento do discurso (narração, exposição, resumo, etc). Pensemos nos actores a contar histórias para um público infantil. O orador poderá adoptar um uso da voz semelhante (não exactamente igual dado que o contexto comunicativo difere).


3 aspectos a ter em conta:

Comunicação Verbal


O vocabulário deve ser especialmente adequado à faixa etária das crianças que constituem o nosso auditório.
Preferencialmente deve ser simples e fácil de pronunciar. Assim, pode-se considerar (embora nem sempre se justifique) "odontopediatra" por "dentista das crianças". Isto não significa facilitar demasiado o vocabulário pois isso impediria, primeiro, que o orador se exprima com o rigor necessário a ser completamente compreendido; segundo, impediria a estimulação linguística necessária ao crescimento e desenvolvimento da expressão verbal. Assim, deve evitar-se a infantilização do vocabulário: nesse caso, substituir-se-ia "pópó" por "carro" num discurso perante um auditório composto por crianças de 10 anos.
Os verbos podem ser conjugados no Presente do Indicativo e pertencer ao léxico que a criança conhece.
Além disso, deve-se evitar parágrafos longos, com muitas orações (para adultos também, claro).
Estas não são regras absolutas mas orientações de senso comum. Não existe, em si, nenhum impedimento de utilizar vocabulário e construções frásicas mais complexas ou mais simplificadas, desde que, naturalmente, o nível de compreensão do auditório lhes corresponda. Esta, sim, deve ser a principal preocupação de um orador ao nível da comunicação verbal.

Linguagem Corporal e Aparência

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A linguagem corporal deve também adequar-se. Tal como um adulto que pretende impor regras tende a assumir uma postura e uma linguagem corporal mais autoritárias e distantes, um adulto que queira comunicar com elas pode adoptar uma linguagem corporal com a qual a criança se identifique. Isto não significa a infantilização do orador mas tão simplesmente a gestão dos seus movimentos e gestos de forma a que o auditório infantil os possa reconhecer e interpretar.
Por vezes, os oradores adoptam uma linguagem corporal e uma aparência em relação a um auditório infantil idêntico àquele que assumem perante auditórios de adultos. Em si, não tem mal nenhum. Contudo, poderão causar estranhamento ou surpresa no auditório.
Para retirarmos o mais possível da ligação entre orador e auditório, atender a este género de pormenores pode fazer a diferença entre o sucesso e o insucesso da comunicação.


Proxémica

A proxémica investiga a construção social do espaço. Por outras palavras, ela estuda as distâncias físicas que os indivíduos estabelecem entre si quando interagem socialmente. A gestão do espaço entre interlocutores é uma importante faceta de todo o acto de comunicação.
Image result for speaking to kidsNas crianças, isso é ainda mais importante porque a diferença de tamanho entre adultos e crianças torna o espaço um assunto comunicacionalmente muito sensível. 
Assim, um orador competente irá ter em atenção se pretende uma comunicação de maior ou menor proximidade com o seu auditório (por exemplo, quando uma Educadora lhes conta uma história).
Claro que em situações formais (ex: acção institucional de sensibilização de um dado tópico) a proxémica assume uma menor importância. Todavia, mesmo em comunicações na escola a constituição de um circulo em torno do orador pode ajudar o auditório a escutar a mensagem que lhe é destinada.
Um caso tipíco onde a distância física interfere directamente com o significado da comunicação são as situações em que os pais falam com os filhos.
Quando pretendem aproximar-se, física e emocionalmente, das crianças, muitos pais baixam-se e colocam-se ao nível dos olhos da criança. Isto é muito vantajoso. Cria contacto visual ao mesmo tempo que providencia um porto de segurança física à criança. Claro que esta atitude não se destina a repreender mas sim a aconselhar, confidenciar, pedir ou escutar aquilo que a criança tem para partilhar.
Como todos os pais sabem, colocar-se ao nível da criança constitui uma atitude muito importante do ponto de vista da comunicação.



Boas comunicações!

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